No dia seguinte, a grande multidão que viera para festa, sabendo que Jesus vinha a Jerusalém, tomou ramos de palmeira e saiu ao seu encontro, clamando: “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor, o rei de Israel!”. Jesus, encontrando um jumentinho, montou nele, como esta escrito: “Não temas, filha de Sião! Eis que vem o teu rei montado num jumentinho!”. Os discípulos, a principio, não compreenderam isso, mas, quando Jesus foi glorificado, lembraram-se de que essas coisas estavam escritas a seu respeito e que elas tinham sido realizadas.
Durante a ceia, quando já o diabo colocara no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, o projeto de entrega-lo, sabendo que o Pai tudo colocara em suas mãos e que ele viera de Deus e a Deus voltava, levanta-se da mesa, depõe o manto e, tomando uma toalha, cinge-se com ela. Depois coloca água numa bacia e começa a lavar os pés dos discípulos e a enxuga-los com a tolha com que estava cingido. Chega, então, a Simão Pedro, que lhe diz: “Senhor, tu, lavar-me os pés?!” Respondeu-lhe Jesus: “O que faço, não compreendes agora, mas o compreenderás mais tarde”.
[...] Depois que lhes lavou os pés, retomou o seu manto, voltou à mesa e lhes disse: “Compreendeis o que vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou. Se, portanto, eu, o Mestre e o Senhor vos lavei os pés, também deveis lavar os pés uns aos outros”.
Ao cair da tarde, ele pôs-se à mesa com os Doze e, enquanto comiam, disse-lhes: “Em verdade vos digo que um de vós me entregará”. Eles, muito entristecidos, puseram-se – um por um – a perguntar-lhe: “Acaso sou eu, Senhor?” Ele respondeu: “O que comigo põe a mão no prato, esse me entregará. Com efeito, o Filho do Homem vai conforme está escrito a seu respeito, mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem for entregue! Melhor seria para aquele homem não ter nascido!” Então Judas, seu traidor, perguntou: “Porventura sou eu, Rabi?” Jesus respondeu-lhe: “Tu o dizes”. Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo-o abençoado, partiu-o e, distribuindo-o aos discípulos disse: “Tomai e comei, isto é o meu corpo”. Depois, tomou um cálice e, dando graças deu-lho dizendo: “Bebei dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados. Eu vos digo: desde agora não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que convosco beberei o vinho novo no Reino do meu Pai”.
Então Jesus foi com eles a um lugar chamado Getsêmani e disse aos discípulos: “Sentai-vos ai enquanto vou até ali para orar”. Levando Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes, então: “Minha alma está triste até a morte. Permanecei aqui e vigiai comigo. “E, indo um pouco adiante, prostrou-se com o rosto em terra e orou: “Meu Pai, se é possível, que passe de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas como tu queres.” E, ao voltar para junto dos discípulos, encontra-os dormindo. E diz a Pedro: “Como assim”? Não fostes capazes de vigiar comigo por uma hora! Vigiai e orai, para que entreis em tentação, pois o espirito está pronto, mas a carne é fraca”. Afastando-se de novo pela segunda vez orou: “Meu Pai, se não é possível que isto passe sem que eu o beba, seja feita a tua vontade!” E ao voltar de novo encontrou-os dormindo, pois os seus olhos estavam pesados de sono. Deixando-os, afastou-se e orou pela terceira vez, dizendo de novo as mesmas palavras. Vem, então, para junto dos discípulos e lhes diz: “Dormi agora e repousai; eis que a hora esta chegando e o Filho do Homem está sendo entregue as mãos dos pecadores. Levantai-vos! Vamos! Eis que meu traidor está chegando”.
Tendo dito isso, Jesus foi com seus discípulos para o outro lado da torrente do Cedron, Havia ali um jardim, onde Jesus entrou com seus discípulos. Ora, Judas, que o estava traindo, conhecia também esse lugar, porque, frequentemente, Jesus e seus discípulos ai se reuniam. Judas, então, levando a corte e guardas destacados pelos chefes dos sacerdotes e pelos fariseus, ai chega com lanternas, archotes e armas. Sabendo Jesus tudo o que lhe aconteceria, adiantou-se e lhes disse: “A quem procurais?” Responderam: “Jesus, o Nazareno”. Disse-lhes: “Sou eu” Judas, que o estava traindo, estava também com eles. Quando Jesus lhes disse: “Sou eu”. Recuaram e caíram por terra. Perguntou-lhes, então, novamente: “A quem procurais?” Disseram: “Jesus, o Nazareno”. Jesus respondeu: “Eu vos disse que sou eu. Se então, é a mim que procurais, deixai que estes se retirem”. [...] Então, Simão Pedro, que trazia uma espada, tirou-a, feriu o servo era Malco. Jesus disse a Pedro: “Embainha a tua espada. Deixarei eu de beber o cálice que o Pai me deu?” Então a corte, o tribuno e os guarda dos judeus prenderam a Jesus e o ataram. Conduziram-no primeiro a Anás. [...] Ora, Simão Pedro, junto com outro discípulo, seguia Jesus no pátio do sumo sacerdote. Pedro, entretanto, ficou junto à porta, de fora. Então o outro discípulo, conhecido do sumo sacerdote, saiu, falou com a porteira e introduziu Pedro. A criada que guardava a porta diz então a Pedro: “Não és tu também um dos discípulos deste homem?” Respondeu ele: “Não Sou”.
Em seguida, os soldados do governador, levando Jesus para o Pretório, reunira contra ele toda a corte. Despiram-no e puseram-lhe uma capa escarlate. Depois, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na em sua cabeça e um caniço na mão direita. E, ajoelhando-se diante dele, diziam-lhe, caçoando: “Salve, rei dos judeus!”. E, cuspindo nele, tomaram o caniço e batiam-lhe na cabeça. Depois de caçoarem dele, despiram-lhe a capa escarlate e tornaram a vesti-lo com as suas próprias vestes, e levaram-no para o crucificar.
Enquanto o levavam, tomaram um certo Simão de Cirene, que vinha do campo e impuseram-lhe a cruz para leva-la atrás de Jesus. Grande multidão do povo o seguia, como também mulheres que batiam no peito e se lamentavam por causa dele. Jesus, porem, voltou-se para elas e disse: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, chorai, antes, por vós mesmas e por vossos filhos! Pois eis que virão dias em que se dirá. Felizes as estéreis, as entranhas que não conceberam e os seios que não amamentaram! Então começarão a dizer as montanhas; Cai sobre nós e às colinas: Cobri-nos! Porque, se fazem assim com o lenho verde, o que acontecerá com o seco?” Eram conduzidos também dois malfeitores para ser executados com ele.
Chegando ao lugar chamado Caveira, lá o crucificaram, bem como aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia: “Pai, perdoa-lhes, não sabem o que fazem.” Depois, repartindo suas vestes, sorteavam-nas. O povo permanecia lá, a olhar. Os chefes, porém, zombavam e diziam: “A outros salvou, que salve a si mesmo, se é o Cristo de Deus, o Eleito!”. Os soldados também caçoavam dele; aproximando-se, traziam-lhe vinagre e diziam: “Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo”. E havia uma inscrição acima dele: “Este é o Rei dos judeus. “Era já mais ou menos a hora sexta quando houve treva sobre a terra inteira até a hora nona, tendo desaparecido o sol. O véu do santuário rasgou-se ao meio, e Jesus deu um grande grito: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espirito”. Dizendo isso, expirou. O centurião, vendo o que acontecera, glorificava a Deus dizendo: “Realmente, este homem era um justo!”.
Eis que havia um homem chamado José, membro do Conselho, homem bom e justo, que não concordara nem com o desígnio, nem com a ação deles. Era de Arimatéia, cidade dos judeus, e esperava o Reino de Deus. Indo procurar Pilatos, pediu o corpo de Jesus. E, descendo-o, envolveu-o num lençol e colocou-o numa tumba talhada na pedra, onde ninguém ainda havia sido posto. Era o dia da Preparação, e o sábado começava a luzir. As mulheres, porém, que tinham vindo da Galileia com Jesus, haviam seguido José; observaram o túmulo e como o corpo de Jesus fora ali depositado. Em seguida, voltaram e preparam aromas e perfumes. E, no sábado, observaram o repouso prescrito.
Passado o sábado, Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para ir ungi-lo. De madrugada, no primeiro dia da semana, elas foram ao túmulo ao nascer do Sol. E diziam entre si: “Quem rolará a pedra da entrada do túmulo para nós?” E erguendo os olhos viram que a pedra já fora removida. Ora, a pedra era muito grande. Tendo entrado no tumulo, elas viram um jovem sentado à direita, vestido com uma túnica branca, e ficaram cheias de espanto. Ele, porém, lhes disse: “Não vos espanteis! Estais procurando Jesus de Nazaré, o Crucificado Ressuscitou não esta aqui. Vede o lugar onde o puseram. Mas ide dizer aos seus discípulos e a Pedro que eles vos procede na Galileia. Lá o vereis como vos tinha dito.” Elas saíram e fugiram do túmulo, pois um tremor e um estupor se apossaram delas. E nada contaram a ninguém, pois tinham medo. Ora, tendo ressuscitado na madrugada do primeiro dia da semana, ele apareceu primeiro a Maria Madalena, de quem havia expulsado sete demônios. Ela foi anuncia-lo Àqueles que tinham estado em companhia dele e que estavam aflitos e choravam. Eles ouvindo que ele estava vivo e que fora visto por ela, não creram.
Um dos Doze, Tomé, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Os outros discípulos, então, lhes disseram: “Vimos o Senhor!” Mas ele lhes disse: ‘Se eu não vir em suas mãos o lugar dos cravos e se não puser meu dedo no lugar dos cravos e minha mão no seu lado, não crerei.” Oito dias depois, achavam-se os discípulos, de novo, dentro de casa, e Tomé com eles. Jesus veio, estando as portas fechadas, pôs-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco!”. Disse depois a Tomé: Põe teu dedo aqui e vê minhas mãos! Estende tua mão e põe-na no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!” Respondeu-lhe Tomé: “Meu Senhor e meu Deus!”. Jesus lhe disse: “ Porque viste, creste. Felizes os que não viram e creram!”.
Os onze discípulos caminharam para a Galileia, à montanha que Jesus lhes determinara. Ao vê-lo, prostraram-se diante dele. Alguns, porém, duvidaram. Jesus, aproximando-se deles, falou: “Toda a autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue. Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”.
Então, no decurso de uma refeição com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que aguardassem a promessa do Pai, “a qual, disse ele, ouvistes de minha boca: pois João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espirito Santo dentro de poucos dias”. Estando, pois, reunidos, eles assim o interrogaram: “Senhor, é agora o tempo em que irás restaurar a realeza em Israel?” E ele respondeu-lhes: “Não compete a vós conhecer os tempos e os momentos que o Pai fixou com sua própria autoridade. Mas recebereis uma força, a do Espirito Santo que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e a Samaria, e até os confins da terra”. Dito isto, foi elevado à vista deles, e uma nuvem o ocultou a seus olhos. Estando a olhar atentamente para o céu, enquanto ele se ia, dois homens vestidos de branco encontraram-se junto deles e lhes disseram: “Homens da Galileia, por que estais ai a olhar para o céu: Este Jesus que foi arrebatado dentre vós para o céu, assim virá, do mesmo modo como o vistes partir para o céu”.